Maria Alice Fernandes é um dos grandes exemplos de desprendimento e humanitarismo dados pela mulher potiguar. Formada como obstetriz pela Faculdade de Medicina de Recife e aluna interna do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de São Paulo, fez, posteriormente, cursos de pós-graduação na Alemanha, Japão e Suíça.
Mais de 42 anos, ela dedicou sua vida aos pobres. Principalmente aos cancerosos pobres do Hospital Luiz Antônio, onde Maria Alice Fernandes é uma espécie de anjo da guarda. Na sua luta pelo Hospital, ela se transforma e se agiganta. A pequena mulher aceita até desafio, chegando a avalizar compra acima do seu orçamento doméstico. “O importante é servir ao hospital. O dinheiro aparece depois”, dizia.
Casou-se aos 14 anos com Francisco Fernandes Costa, segundo ela o pai da Odontologia no Rio Grande do Norte, e com ele teve apenas um filho, Ferdinando Fernandes Costa, que considerava "um filho excelente". Teve o filho aos 15 anos. É a única obstetriz do Rio Grande do Norte formada pela USP, onde defendeu tese de doutorado. Veio para o Estado e aqui realizou 13.987 partos.
Aluna brilhante, desde o curso primário em Macaíba, onde nasceu, o ginásio na Escola do Comércio e conclusão em Recife. Lá concluiu também o curso Científico. Fez um curso de obstetriz, em São Paulo, e ganhou uma bolsa para a Suíça. Passou quatro meses em Zurique. Retornou ao País e veio trabalhar aqui no seu Rio Grande do Norte.
Aposentou-se e continuou seu trabalho como fundadora da Liga Norte-rio-grandense contra o Câncer. Mantenedora do Hospital Luiz Antônio. Maria Alice ou Maralice, para os amigos, falava com fluência lembrando a menina desinibida oradora de turmas por onde passou.
“Eu não gosto de falar sobre mim. Prefiro falar do Hospital Luiz Antônio”., onde Maria Alice Fernandes é nome de uma sala de cirurgia colocado a sua revelia. Empreendeu inúmeros bingos, festas e promoções em prol do hospital. Desde a ampliação das salas de cirurgias, à aquisição do acelerador Linear adquirido através de uma campanha em todo o Estado. Na época, o governador José Agripino lançou um desafio a Maria Alice, caso ela conseguisse a metade do dinheiro do acelerador, o Estado entraria com a outra metade. Maria Alice conseguiu e o aparelho foi comprado nos EUA por US$ 600 mil dólares.
Nas entrevistas que concedeu, Maria Alice Fernandes falava do hospital Luiz Antônio com entusiasmo. Chegando mesmo às lagrimas. Lamentava o isolamento do doente pobre que após uma quimioterapia recebe dez dias de licença para passar em casa com a família e ninguém vem buscá-lo. Maria Alice colocava o doente no carro e ia deixá-lo em casa, onde faz uma preleção para sua família, onde afirmava que o doente precisa do apoio de todos. Principalmente dos seus familiares. Ajuda na recuperação.
Maria Alice Fernandes fez diversas viagens pela Europa e EUA, de onde trazia pratos oriundos de cada país visitado para compor uma coleção variada. Foi diretora do Lions Clube Leste, onde conseguiu chamar a atenção deste clube de serviços para diversos melhoramentos no hospital Luiz Antônio. Pertencia ainda a Sociedade Amigos da Marinha – Soamar – fundadora da Liga Norte-riograndense contra o câncer e da Rede Feminina Contra o câncer.
Morou algum tempo nos EUA, onde fez um curso de inglês como sua segunda língua. Foi professora deste idioma na Sociedade Brasil-Estados Unidos e na Escola Doméstica de Natal, onde introduziu o inglês no primário, lecionando gratuitamente para as crianças.
Apesar de uma vida agitada, Maria Alice guardava tempo para a poesia, seu poeta era Carlos Drumond de Andrade, já os autores prediletos foram Machado de Assis, Malba Tahan, Raquel de Queiroz, Lin Yutang e Gilbran Kalil Gilbran.
Assim foi Maria Alice Fernandes, um verdadeiro anjo da guarda do Hospital Luiz Antônio, juntamente com 40 voluntários ajuda nessa tarefa diária de manter o hospital e amenizar a dor do próximo. Sobre o que ela afirmava: “aliviar o sofrimento do próximo me dá uma imensa paz interior. E como compensação Deus tem sido muito generoso comigo”.
Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de fevereiro de 1990, sendo o seu corpo transladado num avião cedido pelo Estado do RN para ser sepultado em Natal.
Todo o seu empenho pela saúde fez com que o governo do Rio Grande do Norte, em 1999, nomeasse o mais novo hospital pediátrico de Maria Alice Fernandes. Com a fundação da Academia Macaibense de Letras, em setembro de 2010, Maria Alice foi escolhida patrona da cadeira nº 23, cujo fundador é o odontólogo e escritor Héverton Duarte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opine com responsabilidade sem usar o anonimato!A Liberdade de Expressão... está assegurada, em Lei, à todo Cidadão,LIVRE!